Clarice Lispector
Textos y Fragmentos varios
Quando eu aprendi a ler e
a escrever,
eu devorava os livros!
1947 Berna - Suiça
Há três coisas
para as quais eu nasci e
para as quais eu dou minha
vida.
Abstrato e figurativo - Não
soltar os cavalos
Meu Deus do céu, não
tenho nada a dizer.
O som de minha máquina
é macio.
La palabra
tiene su terrible limite. Más allá de ese límite está
el caos
orgánico. Después del final de la palabra
empieza el gran alarido eterno.
No entiendo
de qué hablan, pero siento ese falso vanguardismo,
lleno de modismos, frío,
calculador, poco humano. La mejor crítica
es la que entra en contacto con
la obra del autor casi telepáticamente.
Citado por Olga BORELLI: "Liminar" en:
Clarice Lispector, A Paixão segundo
G. H.
Y si tengo que usar palabras, tienen que tener un sentido
casi corpóreo
(...)
palabras hechas de los instantes-ya
(...)
Quiero como poder coger con la mano la palabra.
Citado por Álvaro Manuel Machado
en "Clarice Lispector"
Tenho várias caras.
Uma é quase bonita, outra é quase feia.
Sou um o quê? Um quase tudo.
E como nasci?
Por um quase. Podia ser outra. Podia ser um homem. Felizmente nasci mulher.
E vaidosa. Prefiro que saia um bom retrato meu
no jornal do que os elogios.
Eu conhecia melhor um árabe com véu no rosto quando estava
no Rio.
Todo esse
mês de viagem nada tenho feito, nem lido, nem nada.
Sou inteiramente Clarice Gurgel Valente.
Suponho que me entender não é uma questão
de inteligência e sim de sentir, de entrar em contato...
Ou toca, ou não toca.
Resposta a Lúcio Cardoso:
Me entristeceu
um pouco você não gostar do título "O Lustre".
Exatamente pelo que você não gostou, pela
pobreza dele, é que eu
gosto. Nunca consegui mesmo convencer você de que
eu sou pobre... Infelizmente, quanto mais pobre, com mais enfeites me enfeito.
No dia em que eu conseguir uma forma
tão pobre como eu o sou por
dentro, em vez de carta, você
receberá uma caixinha cheia de pó de
Clarice.
Eu estava
em Roma quando um amigo meu
disse que o De Chirico na certa
gostaria de me
pintar. Perguntou a ele. Aí
ele disse que só me
vendo. Me viu e disse: eu vou pintar
o seu ...
o seu retrato. Em 3 sessões
ele fez. E disse assim:
eu podia continuar pintando interminavelmente
esse retrato, mas eu tenho medo de
estragar tudo.
Eu estava posando para De Chirico
quando o
jornaleiro gritou: 'È finita
la guerra'. Eu também
dei um grito, o
pintor parou, comentou-se a falta
estranha de alegria da gente e continuou-se.
Aposto que, no Brasil, a alegria foi
maior.
Tenho visto
pessoas demais, falado demais, dito mentiras,
tenho sido muito gentil. Quem está
se divertindo é uma mulher que
eu detesto, uma mulher que não
é a irmã de vocês. É qualquer uma.
Mesmo para
os descrentes há a pergunta duvidosa: e depois da
morte? Mesmo para os descrentes há o instante
de desespero: que Deus
me ajude... Venha, Deus, venha.
Mesmo que eu não mereça, venha.
Sou inquieta, ciumenta, áspera,
desesperançosa. Embora amor dentro
de mim eu tenha. Só que eu
não sei usar amor: às vezes parecem farpas.
Se tanto amor dentro de mim recebi e continuo inquieta
e infeliz, é
porque preciso que Deus venha. Venha antes que seja tarde
demais.
O trabalho
está desorganizado, muito ruim, muito confuso.
Material eu tenho e em abundâcia.
O que me falta é o tino da composição,
o verdadeiro trabalho. Minha tendência
seria a de pensar apenas e não
trabalhar nada. Mas isso não é possível.
O trabalho de compor é o pior.
Eu mesma vivo me levantando e caindo de novo e me levantando.
Não
sei qual é o bem disso, sei que é essa
forma confusa de vida que vivo.
Uma pessoa que quisesse tomar minha direção
seria bem vinda... Eu
nunca sei se quero descansar porque estou realmente cansada,
ou se
quero descansar para desistir.
Meus livros
felizmente para mim não são superlotados de fatos,
e sim da repercussão dos
fatos nos indivíduos. Eu me refugiei em escrever.
Acho que consegui devido a uma vocação
bastante forte e uma falta
de medo ao ser considerada diferente no ambiente em que
vivia.
Eu escrevo simples. Eu não enfeito.
... eu só
escrevo quando eu quero, eu sou uma amadora e faço
questão de continuar a ser
amadora. Profissional é aquele que tem uma obrigação
consigo mesmo de escrever, ou então em relação ao
outro.
Agora, eu faço questão
de não ser profissional, para manter minha
liberdade.
Escrever é
procurar entender, é procurar reproduzir o irreproduzível,
é sentir até o último fim o sentimento
que permaneceria apenas vago e sufocador. Escrever é também
abençoar uma vida que não foi abençoada.
É preciso
coragem. Uma coragem danada. Muita coragem
é o que eu preciso. Sinto-me
tão desamparada, preciso tanto
de proteção... porque parece que sou portadora
de uma coisa
muito pesada. Sei lá porque escrevo! Que fatalidade
é esta?
Enquanto eu
tiver perguntas e não houver respostas,
continuarei a escrever.
Ninguém
me entendia. Agora me entendem.
A que você atribui isso? Eu não sei...
que eu saiba
não fiz concessões.
Me chamam
de hermética. Como é que se pode
ser popular, sendo hermética? Eu me compreendo.
De modo que eu não sou hermética para mim.
Eu acho que, quando não escrevo, estou morta.
Eu escrevo
sem esperança de que o que eu escrevo altere qualquer coisa. Não
altera em nada... Porque no fundo a gente não está querendo
alterar as coisas. A gente está querendo desabrochar
de um modo ou de outro...
Nasci para
escrever. Cada livro meu é uma estréia penosa e
feliz. Essa capacidade de me renovar
toda à medida que o tempo
passa é o que chamo de viver
e escrever.